O mito da alma gêmea – aquela sua metade da laranja que está por aí em algum lugar e é a única que pode te fazer feliz – não é novo. O diálogo "O Banquete", de Platão, já fazia menção a este grande clichê dos apaixonados. No texto, o filósofo grego conta a história dos andróginos, seres primordiais que queriam tomar o poder de Zeus. Quando se viu ameaçado, Zeus partiu os andróginos ao meio e, como um castigo divino, eles foram condenados a vagar pelo mundo buscando a outra metade para refazer o encaixe.
Após séculos de encontros e desencontros, a expressão pode até ter se desgastado, mas a sua idéia persiste recheando as telas dos cinemas. O filme “500 dias com ela”, de Marc Webb, é um exemplo. Tom (Joseph Gordon-Levitt) é um romântico incorrigível que acredita ter encontrada sua alma gêmea em Summer (Zooey Deschanel). Contudo, a moça não acredita no amor e não quer se comprometer. Essa inversão nos papéis é um dos truques que faz o filme fugir do lugar comum.
Mas quem terá razão? O romântico Tom ou a pós-moderna Summer? Talvez não seja possível estabelecer uma verdade absoluta, mas não custa tentar.
A estudante de direito Lívia Varella, 20 anos, corrobora a posição de Summer. “Essas coisas de alma gêmea, metade da laranja, são concepções muito cafonas sobre o amor”, reflete. “A maioria das pessoas que acredita nisso acaba se decepcionando quando percebe que não é metade de nada, é um corpo independente que pode encontrar alguém que goste de verdade, e, com sorte, ser correspondido.”
Uma opinião divergente é proposta pela estudante de engenharia Laura Rodrigues, 21 anos. “Acredito piamente que existe alguém certo para cada um.” Ela admite ainda não ter encontrada a sua alma gêmea, mas não perdeu as esperanças. “Sei que meu príncipe encantado baterá na minha porta um dia desses, com uma capa e um cavalo branco”, sonha, “só espero que não demore muito”.
A idéia de alma gêmea é menos popular entre os homens. Apesar de “500 dias com ela” tentar escapar, o estereótipo se confirma na realidade. Pedro Cardoso, 20 anos, afirma que, se existir uma só pessoa para cada um, o mundo é muito injusto. “Considerando que existem mais mulheres do que homens sobre a terra, ou a vida de algumas mulheres é muito injusta, ou o homossexualismo é divino.”
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