Uma terra composta por grandes arvoredos e abundantes águas limpas foi descoberta pela tripulação portuguesa. Denominada Ilha de Vera Cruz, a terra comporta homens pardos, nus e com vergonhas descobertas. O incidente ocorreu em 22 de abril, 44 dias após a partida de Belém. De acordo com relatos dos tripulantes, é possível a existência de ouro e prata abundantes nessa terra.
Os homens portam feições avermelhadas, de bons rostos e narizes. Andam nus e pintam seus corpos, além de não serem pudorosos em mostrar suas vergonhas. Seus cabelos são lisos e muito pretos e seus lábios são furados, carregando ossos ou pedras entre os furos. O idioma falado por eles é estranho aos portugueses, mas já se estabelece algum tipo de diálogo.
O informante oficial da coroa portuguesa, Pero Vaz de Caminha, conta que os nativos são tão inocentes que trocam arcos e flechas, aves robustas e outros materiais por quaisquer objetos velhos e de pouca valia. “Trocavam arcos e flechas por sombreiros e carapuças de linho ou por qualquer coisa que alguém desejasse dar-lhes”, afirma o informante.
Para esses homens tornarem-se amigáveis, tudo deve acontecer de acordo com o que eles desejam. Basta dar-lhes simples presentes para que eles se interessem na companhia dos portugueses. “Alguns fatos me induzem a pensar que se trate de gente bestial e de pouco saber, e por isso mesmo são tão esquivas; mas apesar de tudo isso, andam bem curados e muito limpos”, afirma Pero Vaz de Caminha.
Acredita-se que essa gente é desprovida de qualquer idolatria e que a missão dos portugueses que ali chegaram seja convertê-los ao catolicismo. “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos”, afirma Caminha, acrescentando que, ao participarem de missa junto aos portugueses, os nativos demonstraram grande devoção.
Os homens de Vera Cruz não lavram nem criam. Alimentam-se apenas de inhames e frutos abundantes na natureza. Por essa razão, apresentam-se fortes e saudáveis. As mulheres possuem vergonhas firmes tamanha inocência, que poderiam causar inveja nas mulheres portuguesas.
Nativos trabalham por curiosidade
Após confraternização com a tripulação portuguesa, os homens da terra demonstraram grande disposição em ajudar os viajantes a colher lenha. Fortes e robustos, trabalhavam com prazer. Presume-se que eles estavam, na verdade, curiosos em conhecer materiais de corte feitos à base de ferro.
De acordo com relatos de tripulantes, os nativos cortam suas madeiras com pedras feitas de cunhas muito bem ataladas a um pau. Além disso, despertou-lhes a curiosidade o comer e o dormir dos portugueses, uma vez que suas casas eram compartilhadas por cerca de 35 pessoas.
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